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Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) – Desmistificando Conceitos e Confusões

Atualizado: 24 de fev.

Por Dra. Aline Vicente, Neuropsicóloga Clínica



Por Que Falar Sobre AH/SD?

Como neuropsicóloga, frequentemente me deparo com histórias de crianças e adolescentes brilhantes que são mal compreendidos. Muitos são rotulados como “problemáticos”, “desatentos” ou até diagnosticados erroneamente com transtornos como TDAH ou Asperger. Por trás desses rótulos, muitas vezes, está uma realidade pouco discutida: as Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD).


No artigo científico que inspirou este texto, as pesquisadoras Susana Pérez e Sheila Silveira destacam um dado alarmante: enquanto estima-se que existam 2,5 milhões de alunos com AH/SD no Brasil, apenas 11.000 foram identificados em 2012. Essa invisibilidade não é por acaso. Ela resulta de mitos, falta de formação de educadores e confusões frequentes com outros conceitos. Hoje, quero esclarecer essas ambiguidades e ajudar pais, professores e colegas da saúde a enxergarem além dos estereótipos.


AH/SD Não É...


1. Precocidade

Uma criança que lê aos 4 anos ou toca piano antes dos 6 não é necessariamente superdotada. A precocidade refere-se ao desenvolvimento de habilidades antes do tempo esperado, mas não garante um desempenho excepcional na vida adulta. Como explica Tarrida (1997), uma criança precoce segue as mesmas etapas de desenvolvimento das outras, apenas de forma mais acelerada.


Exemplo prático: João, 5 anos, lê livros infantis fluentemente, mas não compreende metáforas ou contextos complexos. Isso é precocidade. Já Maria, mesma idade, além de ler, questiona o enredo e propõe finais alternativos – aqui, podemos suspeitar de AH/SD.


2. Prodígio

O termo “prodígio” descreve crianças com desempenho equivalente ao de um adulto em áreas específicas (música, matemática, xadrez). Porém, como alerta Feldman (1993), isso não está diretamente ligado à inteligência global. Muitos prodígios não se tornam adultos excepcionais, e nem toda pessoa com AH/SD foi uma criança-prodígio.


Exemplo prático: Pedro, 9 anos, domina concertos de violino clássico, mas tem dificuldades em interações sociais e criatividade. Isso é prodigiosidade. Júlia, 10 anos, compõe suas próprias músicas e adapta técnicas inovadoras – aqui, vemos AH/SD.


3. Gênio

“Gênio” é um título póstumo, concedido a quem revoluciona áreas como ciência ou arte. Mozart, Einstein e Da Vinci são exemplos. Vigotsky (1998) ressalta que a genialidade exige contribuições históricas, algo impossível para uma criança. AH/SD é sobre potencial, não sobre legado.


Exemplo prático: Carlos, 12 anos, resolve problemas matemáticos complexos, mas não criou uma nova teoria. Ele tem AH/SD. O “gênio” é quem transforma esse potencial em algo que muda

o mundo.


4. TDAH ou Asperger

Aqui está uma das confusões mais graves. Crianças com AH/SD podem ser hiperfocadas em interesses específicos, questionar regras ou parecer “desatentas” em tarefas rotineiras – comportamentos que imitam sintomas de TDAH ou Asperger.


Diferenças-chave:

  • TDAH: A desatenção é generalizada (em todas as atividades). Na AH/SD, a concentração é intensa em áreas de interesse.

  • Asperger: Dificuldades na teoria da mente (interpretar emoções alheias) são centrais. Já pessoas com AH/SD costumam ser empáticas, ainda que intensas.


Exemplo prático: Ana, 8 anos, ignora lições de matemática básica (desatenção aparente), mas passa horas resolvendo enigmas de lógica (hiperfoco). Isso é AH/SD, não TDAH.


Observação Importante:

No DSM-5-TR (2022), o termo "Transtorno de Asperger" foi descontinuado e integrado ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) Nível 1 de Suporte (antigamente denominado "alto funcionamento"). Pessoas que receberam esse diagnóstico anteriormente agora são reconhecidas dentro do espectro autista, com características que demandam menor necessidade de apoio no dia a dia.


Apesar da mudança na nomenclatura, muitos ainda utilizam o termo "Asperger" coloquialmente ou por familiaridade histórica. No entanto, é fundamental atualizar a linguagem clínica para evitar confusões e garantir alinhamento com as diretrizes diagnósticas atuais.


AH/SD É...

Segundo Winner (1998), três características definem a superdotação:


  1. Precocidade atípica: Aprendem rápido e sem instrução formal.

  2. Paixão por dominar: Persistem em desafios, mesmo sem incentivo.

  3. Criatividade divergente: Pensam “fora da caixa” e questionam o status quo.


Exemplo prático: Luís, 10 anos, aprendeu programação sozinho, cria jogos digitais e ensina colegas. Seu projeto foi recusado na feira escolar por ser “complexo demais”. Casos como esse mostram como a escola falha em reconhecer AH/SD.


Por Que a Confusão Acontece?

  1. Falta de formação docente: Professores não são treinados para identificar AH/SD.

  2. Crenças culturais: Acredita-se que superdotados são sempre “gênios” ou “perfeitos”.

  3. Sobrecarga diagnóstica: Sintomas são atribuídos a transtornos por falta de conhecimento.


Consequências do Erro

  • Subestimação intelectual: Crianças são colocadas em séries inadequadas ou ignoradas.

  • Problemas emocionais: Frustração, ansiedade e isolamento social são comuns.

  • Medicação desnecessária: Muitos recebem remédios para TDAH sem necessidade.


Como Identificar AH/SD?

  1. Avaliação multidisciplinar: Envolva neuropsicólogos, pedagogos e familiares.

  2. Observação contextual: Comportamentos mudam conforme o ambiente?

  3. Instrumentos validados: Testes de QI, avaliações criativas e portfolios de trabalhos.


Dica para pais: Se seu filho(a) faz perguntas filosóficas, tem humor sarcástico ou chora por injustiças sociais, investigue AH/SD.


Conclusão: Um Chamado à Ação

Já vi talentos incríveis serem perdidos por falta de entendimento. AH/SD não é um transtorno, mas uma diferença que merece apoio.


Para escolas: Invistam em formação docente e salas de recursos. Para famílias: Busquem avaliação especializada antes de aceitar diagnósticos superficiais.


Para colegas da saúde:

Lembrem-se: AH/SD pode coexistir com outros transtornos. Não subestimem a complexidade.

Se suspeita que seu filho, aluno ou paciente tem AH/SD, não hesite em buscar ajuda.


Na Psicovivendo, oferecemos avaliações neuropsicológicas detalhadas e orientação para famílias e escolas. Juntos, podemos transformar confusão em compreensão.


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Referências baseadas no artigo de Pérez e Silveira (2013) e obras citadas no texto.


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