Dia da Mulher: Memória, Gratidão e Luta Contínua
- Neuropsicológa Aline Vicente
- 8 de mar.
- 3 min de leitura
O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, transcende flores e mensagens de felicitações. É um marco histórico que carrega em seu cerne séculos de resistência, coragem e reivindicações por direitos básicos. Como neuropsicóloga, entendo que a saúde mental das mulheres está intrinsecamente ligada à sua liberdade, autonomia e reconhecimento social. Neste texto, mergulhamos na história, refletimos sobre expressões culturais e celebramos as vozes que moldaram e ainda moldam a luta feminina.
A História: Das Ruínas à Revolução
A jornada das mulheres por igualdade remonta a tempos ancestrais, mas ganhou contornos organizados no século XIX e XX. O movimento sufragista, iniciado na Inglaterra e EUA, foi um divisor de águas: mulheres como Emmeline Pankhurst desafiaram leis para garantir o direito ao voto. No entanto, antes mesmo disso, Christine de Pizan (1364–1430), poetisa e filósofa medieval, já questionava a misoginia em sua obra "A Cidade das Mulheres" (1405), defendendo a capacidade intelectual e moral do sexo feminino.
Curiosidades sobre o movimento:
O incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist (1911), em Nova York, onde 146 trabalhadoras morreram, é frequentemente associado à origem do 8M, mas a data já era discutida em congressos socialistas desde 1910.
A primeira celebração oficial do Dia da Mulher ocorreu em 1911, na Áustria, Dinamarca e Alemanha.
No Brasil, apenas em 1932 as mulheres conquistaram o direito ao voto, graças à luta de pioneiras como Bertha Lutz.
A Cultura como Espelho da Luta
A arte sempre refletiu (e questionou) os papeis sociais das mulheres. Na música, duas obras emblemáticas ilustram essa evolução:
"Ai que saudades da Amélia" (Ataulfo Alves, 1942):A canção retrata a "Amélia" como símbolo da mulher submissa, que "não tinha o seu próprio dinheiro" e vivia em função do homem. Por décadas, ela foi romantizada, mas hoje é vista como crítica à idealização da servidão feminina.
"Desconstruindo Amélia" (Pitty, 2017):Pitty resgata a figura de Amélia para desmontar estereótipos: "Amélia não existe mais, que bom!". A música celebra a ruptura com modelos opressivos, reforçando a autonomia e a complexidade da mulher contemporânea.
Essa dualidade musical mostra como a sociedade evoluiu e como ainda precisamos desconstruir narrativas enraizadas.
Para Conhecer e Refletir: Filmes, Séries e Livros
Indicações culturais para mergulhar na luta feminista:
Livros:
"Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir (clássico sobre a construção social da mulher).
"Mulheres, Raça e Classe", de Angela Davis (intersecionalidade na luta por direitos).
"Quem Tem Medo do Feminismo Negro?", de Djamila Ribeiro (debate contemporâneo brasileiro).
Filmes/Séries:
"As Sufragistas" (2015): retrato cru do movimento sufragista britânico.
"Histórias Cruzadas" (2011): racismo e resistência de mulheres negras nos EUA.
"O Conto da Aia" (série): distopia sobre controle do corpo feminino.
Dia da Mulher: Memória, Gratidão e Luta Contínua
Este dia não é apenas celebração, mas memória coletiva. Agradecemos às que vieram antes de nós: às operárias queimadas em fábricas, às escritoras que ousaram pensar, às mães que educaram filhos para a igualdade. Porém, a luta não acabou.
Como neuropsicóloga, vejo diariamente os impactos do machismo na saúde mental: ansiedade, culpa crônica, síndrome da impostora. A pressão por ser "perfeita" em múltiplos papéis ainda consome muitas de nós. Por isso, o 8 de março é também um chamado para nunca baixar a guarda:
Denunciar violências física e psicológica.
Exigir equidade no trabalho e em casa.
Cuidar da saúde mental, combatendo estigmas.
Conclusão: Florescem como Girassóis assim como o girassol, que se volta para a luz mesmo em solos áridos, as mulheres seguem buscando crescimento em meio a adversidades. Que neste dia, e em todos, possamos honrar as Amélias do passado, desconstruir amarras e seguir escrevendo nossa história com voz, liberdade e sororidade.
Estamos na luta. Juntas, sempre.
Aline Vicente Neuropsicóloga | CRP-12/20200 Pela saúde mental e direitos das mulheres.
Compartilhe sua história: Conte nos comentários qual mulher inspira sua jornada ou indique outras obras sobre o tema! 💜
Referências :
Davis, Angela. Mulheres, Raça e Classe.
Hahner, June E. A Mulher Brasileira e suas Lutas.
Documentário "She’s Beautiful When She’s Angry" (disponível na Netflix).
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