Transtorno de Personalidade Borderline (TPB): Entendendo os Critérios do DSM-5-TR e a Neurociência por Trás
- Neuropsicológa Aline Vicente
- 26 de fev.
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de fev.
Por Aline Vicente, Neuropsicóloga Clínica

Olá, sou a Dra. Aline Vicente, neuropsicóloga, e hoje quero conversar com você sobre um tema complexo, mas fundamental para a saúde mental: o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), conforme descrito no DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Vamos explorar os critérios diagnósticos, entender como a neurociência explica essa condição e refletir sobre o que é a personalidade, baseando-nos em teorias consagradas.
O Que é o Transtorno de Personalidade Borderline (F60.3)?
O TPB é caracterizado por um padrão difuso de instabilidade em três pilares: relações interpessoais, autoimagem e afetos, além de impulsividade acentuada. Esses sintomas geralmente surgem no início da vida adulta e se manifestam em múltiplos contextos.
Para o diagnóstico, é necessário que a pessoa apresente pelo menos cinco dos nove critérios abaixo:
1. Medo Intenso de Abandono (Real ou Imaginário)
Indivíduos com TPB vivem em constante alerta contra o abandono. Mesmo uma pequena mudança de planos (como um atraso de minutos) pode desencadear pânico ou raiva. Esse medo não se limita a relacionamentos românticos – pode se estender a familiares, amigos ou até profissionais de saúde.
2. Relacionamentos Instáveis: Idealização e Desvalorização
Os vínculos oscilam entre extremos: uma pessoa é vista como "perfeita" em um dia e "horrível" no seguinte. Essa alternância reflete uma dificuldade em enxergar nuances nas relações, gerando conflitos e frustrações constantes.
3. Perturbação da Identidade: "Quem Sou Eu?"
A autoimagem é frágil e mutável. Metas, valores e até hobbies podem mudar radicalmente em pouco tempo. Alguns relatam sentir-se "vazios" ou como se "não existissem", especialmente em situações de solidão.
4. Impulsividade Autodestrutiva
Comportamentos como gastos excessivos, sexo de risco, abuso de substâncias ou compulsão alimentar são comuns. Essas ações buscam alívio imediato para a dor emocional, mas trazem consequências graves a longo prazo.
5. Comportamentos Suicidas ou Automutilação
Ameaças suicidas ou automutilação (como cortes) são formas desesperadas de lidar com a angústia. Muitas vezes, esses atos não visam a morte, mas sim reafirmar a capacidade de sentir ou punir a si mesmo por sentimentos de "maldade".
6. Instabilidade Afetiva: Montanhas-Russas Emocionais
O humor pode mudar drasticamente em horas: de euforia a desespero, de calma a irritabilidade intensa. Essa reatividade emocional é desproporcional aos eventos externos, tornando a vida diária imprevisível.
7. Sentimento Crônico de Vazio
Há uma sensação persistente de que "falta algo" dentro de si. O tédio é frequente, levando a busca constante por estímulos (mesmo que prejudiciais) para preencher esse vazio.
8. Raiva Explosiva e Dificuldade de Controle
Episódios de fúria intensa, muitas vezes desencadeados por percepções de negligência ou rejeição, são comuns. Após as explosões, sentimentos de vergonha e culpa reforçam a autoimagem negativa.
9. Sintomas Dissociativos ou Paranoides Transitórios
Em momentos de estresse extremo, podem surgir sintomas como despersonalização ("sair do corpo"), paranoia passageira ou sensação de irrealidade. Esses episódios costumam durar minutos ou horas.
Neurociência e Personalidade: O Que a Ciência Explica?
Para entender o TPB, é preciso mergulhar no conceito de personalidade. Segundo Villemor-Amaral (2012), a personalidade é um conjunto de padrões estáveis de comportamento, pensamento e emoção que diferenciam cada indivíduo. Já Figueiredo (2022) destaca que o funcionamento emocional envolve como processamos sentimentos, regulamos o humor e construímos nossa autoestima.
O modelo Big Five (Suchy, 2011) classifica a personalidade em cinco traços:
Extroversão (sociabilidade vs. timidez).
Amabilidade (empatia vs. hostilidade).
Conscienciosidade (organização vs. impulsividade).
Neuroticismo (reatividade emocional vs. estabilidade).
Abertura a experiências (curiosidade vs. convencionalismo).
No TPB, há uma elevação extrema no neuroticismo e oscilações nos outros traços, especialmente na regulação emocional e na autoimagem.
O Cérebro Borderline: Amígdala Hiperativa e Pré-Frontal Frágil
Estudos de neuroimagem mostram que pessoas com TPB têm:
Amígdala hiperativa: responsável por processar medo e ameaças, explica a reatividade emocional intensa.
Córtex pré-frontal menos ativo: área ligada ao controle de impulsos e tomada de decisões, o que justifica a impulsividade.
Hipocampo reduzido: relacionado à memória e ao contexto emocional, contribuindo para respostas desproporcionais a estímulos.
Essas alterações podem ser resultado de fatores genéticos combinados a traumas precoces (como abandono ou abuso), que afetam o desenvolvimento cerebral.
Por Que o Diagnóstico Precoce é Essencial?
O TPB é cercado de estigmas, como a ideia de que é "mania de drama" ou "falta de força de vontade". Na realidade, é um transtorno neurobiológico que exige intervenção especializada.
Quanto antes for identificado, mais eficazes serão as estratégias para:
Reduzir comportamentos autodestrutivos.
Melhorar relacionamentos interpessoais.
Fortalecer a autoimagem e a regulação emocional.
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Tratamento: Integrando Neurociência e Psicoterapia
Na minha prática clínica, trabalho com abordagens como:
Terapia Comportamental Dialética (DBT): ensina habilidades de regulação emocional e tolerância ao sofrimento.
Neuropsicoterapia: integra exercícios cognitivos para fortalecer funções executivas (como planejamento e autocontrole).
Psicoeducação familiar: ajuda os entes queridos a entenderem o transtorno e oferecerem apoio sem reforçar padrões disfuncionais.
Um Recado Final
Se você ou alguém próximo se identifica com os critérios do TPB, saiba que há tratamento.
Com tratamento adequado, é possível reconstruir uma autoimagem sólida, estabelecer relações saudáveis e encontrar equilíbrio emocional. Na minha clínica, utilizo uma abordagem humanizada, aliando neurociência e psicologia para oferecer um caminho de transformação.
"A personalidade não é uma sentença; é uma jornada de autoconhecimento que podemos percorrer com apoio e compaixão."
Dra. Aline Vicente Neuropsicóloga Clínica | CRP 12/20020 📞 Agende uma avaliação: 47 32400805
Referências:
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5-TR. 2022.
FIGUEIREDO, L. C. Funcionamento Emocional e Saúde Mental. 2022.
VILLEMOR-AMARAL, A. E. Avaliação da Personalidade: Teoria e Prática. 2012.
SUCHY, Y. Clinical Neuropsychology of Emotion. 2011.
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