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Não É Apenas Um Laudo, É Uma Jornada de Descoberta: A Profundidade da Minha Abordagem em Avaliação Neuropsicológica Longitudinal e Multimodal

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Olá, meu bem, hoje, quero levar você para dentro do meu consultório, não fisicamente, mas conceitualmente. Quero compartilhar a essência do meu trabalho, uma filosofia que vai muito além de aplicar testes e emitir um relatório. Quando você me procura, não ofereço uma simples "fotografia" do seu cérebro em um dia bom ou ruim.


Ofereço a chance de co-produzirmos um "documentário" completo sobre o funcionamento da sua mente. E a linguagem que uso para fazer isso chama-se Avaliação Longitudinal e Multimodal.


Soa como um jargão complexo? Permita-me desvendar, camada por camada, o que esses termos significam na prática e, o mais importante, como essa abordagem meticulosa se traduz em clareza, precisão e um plano de ação verdadeiramente personalizado para você.


Parte 1: Longitudinalidade – A Sabedoria de Escutar o Tempo

A primeira pergunta que muitos fazem é: "Doutora, não basta uma ou duas sessões de testes?" A minha resposta, fruto de anos de estudo e prática clínica, é um "não" gentil, mas fundamentado. A mente humana não é uma equação matemática estática; é um ecossistema dinâmico, fluido e sensível ao contexto. A abordagem longitudinal é o meu compromisso de respeitar essa complexidade.


O que exatamente isso implica?

  • Múltiplos Encontros ao Longo de Semanas: Uma avaliação comigo não é um evento de um dia. É um processo que se desenrola ao longo de várias semanas. Marcamos sessões dedicadas apenas à entrevista inicial, outras para a aplicação de testes (divididos em blocos para evitar fadiga), e uma sessão final exclusiva para o feedback, onde detalho cada conclusão.

  • O Fator Vínculo: A Ciência da Confiança: No primeiro encontro, é natural que haja nervosismo. A "síndrome do desempenho" a pressão de ser avaliado pode distorcer os resultados. Ao nos encontrarmos repetidamente, construímos uma aliança terapêutica. Você se sente mais seguro, compreendido e à vontade. Isso é crucial, pois os dados que coletamos quando você está relaxado e confiante são infinitamente mais fiéis à sua realidade do que aqueles coletados em um estado de ansiedade aguda.

  • Observação das Flutuações: Como você se saiu na primeira sessão de testes? E na segunda, que foi uma semana depois? As suas respostas são consistentes? Houve melhora? Piora? Essas flutuações não são "ruído"; são dados valiosíssimos. Elas me mostram como a sua cognição reage ao cansaço, ao estresse ou, simplesmente, à familiaridade com o processo.

  • Avaliação da Trajetória, Não Apenas do Estado Atual: Este é o cerne. Para condições como TDAH, que é crônico e tem origem na infância, ou para doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, uma única avaliação é como olhar para um único frame de um filme. Não dá para entender a trama. A trajetória se os sintomas estão estáveis, piorando lentamente ou respondendo a uma medicação é o que permite um diagnóstico diferencial preciso e um prognóstico realista.


Em resumo, a longitudinalidade é a humildade profissional de reconhecer que entender uma pessoa leva tempo. É a antítese do laudo apressado.


Parte 2: Multimodalidade – A Arte de Triangular a Verdade com Múltiplas Ferramentas

Se a longitudinalidade é o quando (ao longo do tempo), a multimodalidade é o como (com quais ferramentas). É a prática de nunca confiar em uma única fonte de informação. É a minha estratégia para "triangular" a verdade sobre o seu funcionamento cognitivo, cruzando dados de diversas fontes para chegar a uma conclusão robusta e irrefutável.


Vamos dissecar cada "modo" ou "lente" que utilizo:

1. A Entrevista Clínica Profunda e a Anamnese Meticulosa: Esta é a fundação de todo o processo. Reservo horas divididas em semanas apenas para conversar. Não é uma entrevista rápida e burocrática. É uma investigação detalhada da sua história de vida.

  • História Desenvolvimental: Como foi sua gestação, parto, marcos do desenvolvimento (quando sentou, andou, falou)? Teve dificuldades na escola? Era uma criança dispersa ou muito focada?

  • História Acadêmica e Profissional: Sempre teve facilidade com leitura e matemática? Como é a sua organização no trabalho? Comete erros por desatenção?

  • História Médica e Psiquiátrica: Já teve concussões, convulsões? Faz uso de medicações? Tem histórico de ansiedade, depressão ou outros tratamentos?

  • História Social e Funcional: Como suas queixas impactam seus relacionamentos, sua capacidade de gerenciar finanças, de dirigir, de cozinhar?


2. A Bateria de Testes Neuropsicológicos Padronizados: São os instrumentos formais, cientificamente validados, que quantificam o desempenho em domínios cognitivos específicos. Pense neles como os "medidores de pressão" ou "exames de sangue" da cognição.


Avalio minuciosamente:

  • Atenção Sustentada, Seletiva e Dividida: Sua capacidade de manter o foco em uma tarefa longa, ignorar distrações ou fazer duas coisas ao mesmo tempo.

  • Memória de Curto e Longo Prazo (Visual e Verbal): Como você codifica, armazena e recupera informações. Esquece onde guarda coisas? Esquece compromissos? Tem dificuldade de reter o que lê?

  • Funções Executivas - O "CEO" do Cérebro: Esta é uma área crítica. Avalio:

    • Planejamento e Organização: Capacidade de traçar um plano e executá-lo.

    • Flexibilidade Cognitiva: Capacidade de mudar de estratégia quando algo não dá certo.

    • Controle Inibitório: Capacidade de frear impulsos e respostas automáticas.

    • Memória de Trabalho: A "prancheta mental" que usamos para manter informações temporárias (como um número de telefone).

  • Linguagem: Fluência verbal, nomeação, compreensão de comandos complexos.

  • Habilidades Visuoespaciais e Construtivas: Capacidade de perceber relações espaciais e desenhar/copiar figuras.

  • Velocidade de Processamento: Quão rapidamente você consegue absorver, entender e responder a uma informação.


3. A Observação Comportamental Qualitativa (A "Mágica" que Acontece Entre os Testes):Enquanto você realiza os testes, minha atenção não está apenas na pontuação final. Estou absolutamente focada no processo.

  • Qual a sua estratégia para resolver um quebra-cabeça? Você é metódico ou impulsivo?

  • Como lida com a frustração ao errar? Desiste rapidamente ou persiste?

  • Como se organiza no papel durante uma tarefa? Sua produção é limpa e organizada ou caótica e desestruturada?

  • Faz comentários autodepreciativos? ("Nossa, minha memória é horrível!") Essas observações são diamantes brutos de informação que os testes sozinhos não podem capturar.


4. Escalas e Questionários de Relato de Terceiros: A sua percepção é fundamental, mas muitas condições neurológicas afetam a autoconsciência (uma condição chamada anosognosia). Por isso, peço (com a sua autorização) que pessoas próximas cônjuge, pais, filhos preencham questionários sobre o seu comportamento no dia a dia. Eles podem relatar, por exemplo, que você repete a mesma pergunta várias vezes (sinal de comprometimento de memória) ou tem explosões de raiva (sinal de desinibição), coisas que você mesmo pode não notar.


5. Integração com Dados Médicos e Multidisciplinaridade:A neuropsicologia não é uma ilha. Com a sua autorização por escrito, estabeleço uma ponte com sua rede de cuidados.

  • Contato com Neurologista/Psiquiatra: Entro em contato com seu médico para entender a hipótese diagnóstica dele, os resultados de exames de imagem (ressonância magnética, PET-CT) e o regime de medicações. Um tumor, uma lesão vascular ou o efeito colateral de um remédio podem explicar totalmente os sintomas.

  • Diálogo com outros Terapeutas: Conversar com seu psicólogo ou fonoaudiólogo fornece peças complementares do quebra-cabeça.


A Sinfonia Final: A Integração Longitudinal e Multimodal na Prática

Agora, imagine a potência dessas duas abordagens atuando em conjunto. Não é só ser multimodal uma vez. É ser multimodal repetidamente ao longo do tempo para capturar a narrativa em evolução.


Vou dar um exemplo ainda mais rico:

Caso: "Maria", 60 anos, com queixa de "perda de memória".

  • Avaliação 1 (Mês 1 - Linha de Base Multimodal):

    • Entrevista: Relata esquecer nomes e compromissos. Histórico de depressão há 10 anos, controlada.

    • Testes: Memória verbal apresenta leve comprometimento. Atenção, flutuante.

    • Observação: Muito ansiosa durante os testes, dizendo "tenho medo de ter Alzheimer".

    • Escalas (Família): O marido confirma os esquecimentos, mas nota que pioram quando ela está estressada.

    • Integração Médica: A ressonância mostra apenas atrofia relacionada à idade. O neurologista suspeita de Declínio Cognitivo Leve.

  • Intervenção & Observação (Meses 2 e 3): Sugerimos estratégias de compensação para a memória (agenda, alarmes) e intensificamos o trabalho na ansiedade.

  • Avaliação 2 (Mês 4 - Reavaliação Multimodal):

    • Entrevista: Maria reloga-se. A ansiedade diminuiu significativamente com as técnicas aprendidas.

    • Testes: Os escores de memória permanecem estáveis. A atenção, no entanto, melhorou bastante.

    • Observação: Muito mais calma e confiante durante as tarefas.

    • Escalas (Família): O marido relata que os esquecimentos ainda existem, mas não pioraram.


Conclusão da Jornada: A estabilidade dos escores de memória, associada à melhora da atenção e da ansiedade, afasta a hipótese de uma demência progressiva como o Alzheimer. O quadro é muito mais compatível com um Declínio Cognitivo Leve, possivelmente amplificado pela ansiedade. Um laudo pontual poderia tê-la diagnosticado erroneamente com uma doença grave, gerando um sofrimento desnecessário. A abordagem longitudinal e multimodal entregou a ela a certeza de que não era Alzheimer e um plano de intervenção focado nos fatores corretos: manejo da ansiedade e adaptações para a memória.


Para Quem Esta Abordagem É Essencial?

  • Casos Diagnósticos Intrincados: Diferenciar TDAH em adultos de transtorno de ansiedade; distinguir os primeiros sinais de Demência Frontotemporal de um quadro psiquiátrico.

  • Acompanhamento de Doenças Progressivas: Monitorar a eficácia de uma nova medicação para Alzheimer ou a recuperação após um AVC.

  • Avaliação Pré e Pós-Cirúrgica (ex.: Cirurgia de Epilepsia): Mapear funções antes de uma intervenção e medir mudanças depois.

  • Pessoas que Buscam Respostas, Não Apenas Rótulos: Indivíduos que sentem que suas dificuldades são complexas e interconectadas e que anseiam por uma investigação que honre essa complexidade.


Se você se identifica com essa busca por profundidade e clareza, se sua história parece um quebra-cabeça complexo que exige paciência e expertise para ser montado, então minha abordagem foi feita para você. É um investimento de tempo e energia que tem um retorno inestimável: o autoconhecimento mais preciso e um caminho a seguir, traçado com base em evidências sólidas e numa compreensão profunda de quem você é.


Com toda a dedicação,

Aline Vicente – Psicóloga (CRP 12/20020) | Especialista em Neuropsicologia e em Diagnóstico Tardio do Neurodesenvolvimento.

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